2 de abril de 2010

Idéias para ajudar a salvar o planeta - Jornal Hoje em Dia - Belo Horizonte


A produção de peças a partir de materiais reciclados faz a cabeça de jovens empreendedores.

A criação de materiais úteis e a redução do consumo de produtos industrializados podem ser alcançadas com a reciclagem. Coisas que nunca imaginamos reinventadas são frutos desse processo. Conforme a Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda), mesmo com todas as campanhas de consumo dos reciclados, 83% da população brasileira não fazem uso destes materiais. Para a ambientalista Ligia Vial, esse comportamento está ligado a aspectos culturais e à organização socioeconômica da sociedade.
“Culturalmente, somos educados para considerar a natureza como celeiro infinito de produção das matérias-primas que necessitamos para viver. Também há que se considerar a insuficiência histórica do poder público em não oferecer estrutura para que a população faça sua parte. Não adianta separar produtos recicláveis, se não forem encaminhados para processamento industrial”, pontua.

No Brasil, ainda não se tem uma dimensão do total de empresas que fazem uso da reciclagem. A título de comparação, o percentual de lixo urbano reciclado na Europa e nos EUA é de 40%. Esse número tende a diminuir nos países desenvolvidos, mas por uma boa causa, já que existe uma política de redução da própria produção do lixo. Tanto nos domicílios quanto na indústria, o que é levado para a coleta é um volume menor, pois há uma redução na produção e há uma seleção prévia desse lixo, do que não vai para o aterro, e sim para a reciclagem.
De acordo com Ligia Vial, “a maior parte das cidades brasileiras ainda não possui políticas de incentivo à reciclagem e muito menos adota a coleta seletiva. Portanto, é necessário que a mudança comece pela atitude de cada um”. Foi seguindo este pensamento que um grupo de amigos, composto por três designers e um administrador, se uniu em prol de uma boa causa.
Há dois anos os mineiros de Belo Horizonte Tiago Eiras, 21 anos, Rafael Quik, 21, Paulo Pitella, 23, e Pedro Franco, 23, montaram a MIHO Eco-design, empresa que trabalha com produtos ecologicamente sustentáveis. “Nós sempre trabalhamos juntos na área de design, mas era informalmente. Depois, tivemos a ideia de fazer algumas camisas a base de algodão orgânico e colocar para vender”, conta Rafael. Todos sempre se preocuparam com a questão de responsabilidade socioambiental, além do conceito estar mercadologicamente em alta no momento.
O mesmo ideal move o designer Tiago Matulja, 32 anos, que junto com seu amigo Kiko Horácio, 44 anos, criou em 2006 a Flora Ecoboards, na praia de Itamambuca, a 15 quilômetros de Ubatuba, São Paulo. A empresa dos sócios, que também são surfistas, fabrica pranchas a partir de restos de madeiras que vêm parar na areia trazidos pelas ressacas do mar.

Outros materiais que compõem os produtos são aqueles deixados na oficina por vizinhos, que sabem do trabalho de reaproveitamento que Tiago e Kiko desenvolvem. “A reciclagem é algo que já vem antes das pranchas. Com a proximidade que temos com o meio ambiente pelo envolvimento com o surf, o pensamento e a consciência ecológica acabaram se tornando inerente à nossa natureza”, esclarece Tiago.
O designer entrou com a parte de projeto e Kiko levou sua experiência em madeira e equipamentos, já que há alguns anos ele produz móveis a partir da reutilização de madeiras. “Hoje, igualamos nossa experiência aprendendo um com o outro e com o próprio ofício, mas continuamos fazendo a quatro mãos”, diz Tiago.
Não é de hoje que os idealizadores da Flora Ecoboards se preocupam com o desenvolvimento sustentável do planeta. Há mais de 15 anos eles separam o próprio lixo. Com a mesma consciência ecológica, mas com atitudes diferentes, os jovens da MIHO procuram uma maneira de reduzir o impacto ambiental, com a ideia de fabricar camisetas. O trabalho é feito só com materiais recicláveis ou orgânicos, como o algodão usado na composição da malha.
Cebola, cedro, ipê roxo, imbuia, dentre outros são alguns dos elementos da natureza utilizados para dar pigmento às blusas. Já as embalagens são feitas de pedaços de garrafas de vinho e folha de bananeira.

Para Rafael Quick, os jovens que utilizam as camisas asseguram que a malha, em relação ao produto industrializado, é superior devido à qualidade do algodão orgânico. “Hoje em dia, a maioria da sociedade tem uma impressão de que produtos feitos com materiais orgânicos têm um caráter artesanal ou rústico. O nosso propósito é trazer o design das camisas para o cotidiano das pessoas”.
O objetivo de empresas como a Flora Ecoboards e a MIHO vai além de promover o consumo sustentável. Há uma preocupação em proporcionar benefícios ao meio ambiente e atingir um público realmente interessado na preservação da natureza. 

“Hoje já existem alguns produtos com essa consciência, mas o que tem ainda é meio vago e há uma hipocrisia grande. Algumas lojas de marca têm este pensamento, mas vendem os produtos muito caros”, conclui Rafael. Tiago Matulja acredita que o público alvo da Flora Ecoboards são os “surfistas de alma, aqueles que se preocupam com a natureza e com o meio ambiente”. “É muito legal ver o brilho nos olhos de quem vê nosso produto”, afirma.

Estudantes fazem a sua parte
 
A preocupação com a questão ambiental também é percebida em meio aos estudantes. A universitária Amanda Bencupert, 20 anos, pensou globalmente e agiu localmente. Ela é a autora do Ecopet, projeto que visa à criação de telhas feitas a partir de garrafas PET.

“Escolhi o PET porque ele é um material de grande leveza e transparência, é resistente a fatores externos, como chuva e sol, pode ser encontrado em abundância, além de ser um dos principais responsáveis pela poluição urbana”, relata a estudante do 5º período do curso de Ecologia do Centro Universitário de Belo Horizonte (UNI-BH).
A ideia já existe, tanto que empresas de São Paulo, como a Demale Telhas, e a amazonense Telha Leve, já produzem o material com sucesso. “Algumas das telhas tradicionais são feitas de amianto ou do aço galvanizado, ambos são minerais. A extração deles causa um impacto ambiental significativo, como a destruição da fauna e flora local para a implantação das minas”, explica Amanda.
Além de minimizar o impacto causado pelo PET no ambiente, a garrafa, quando reaproveitada, pode trazer também benefícios no âmbito econômico. “A partir da utilização do PET como matéria-prima, podemos diminuir o custo das telhas, contratar mão de obra barata que possa realizar a coleta das garrafas em residências, e até mesmo firmar uma parceria com a prefeitura para usar os PETs recolhidos na coleta seletiva”.
De acordo com Amanda Bencupert, não há registros, em Minas Gerais, da fabricação de telhas com garrafas PET. “Depois que me formar, quero colocar o ECOPET em prática, pois acho que o produto tem muito futuro, além de trazer muitos benefícios para o meio ambiente. Vou continuar pesquisando e depois monto minha empresa”, declara.
Embalagens usadas, papéis, latas de alumínio e sacolas plásticas são materiais comumente reutilizados. Mas você já parou para pensar que lona de caminhão também pode entrar na lista dos recicláveis? Bolsas, cintos e bonés são frutos dessa matéria-prima inovadora.
Enquanto os jovens garotos da MIHO produzem camisetas com matéria-prima natural, a Lonna fabrica acessórios com as lonas recicladas. A empresa coordenada por Sérgio Neto, 38 anos, e Bruna Fernandes, 21, existe há três anos. A importância ambiental é um dos pontos fortes que cativa os clientes preocupados em estar na moda, mas sem degradar a natureza.
(*) Esta matéria foi produzida e editada pelas alunas do curso de Jornalismo do Centro Universitário de Belo Horizonte ( UNI-BH): Fernanda Oliveira, Geanine Nogueira, Mariana Medrano, Najela Bruck (6º período).
Supervisão: professor Fabrício Marques (MG 04663 JP). 16/11/2009 - 10:50

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